Finisterra - 100 sessões e 1 ano depois

Finisterra é uma mesa aberta com foco em hexcrawl, inspirada nos princípios e experiências de Oil Fantasy que surgiu após eu jogar diversas excelentes sessões das mesas de Biergotten e Faerun87.

O projeto começou em 19 de setembro de 2023 e hoje completa 1 ano de funcionamento da mesa, ao longo desse período aconteceram exatamente 100 sessões de jogo, envolvendo dezenas de jogadores e personagens, e hoje no dia que sai esse post acontece a 101ª sessão.

Além de ser um post comemorativo de 1 ano bem sucedido do projeto, também vou apresentar um resumo dos avanços da campanha até agora e vários números interessantes sobre exploração, personagens e acontecimentos.

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Organização e início

O ponto de partida foi o workshop de hexcrawl oferecido pelo pessoal do Café com Dungeon para os jogadores de Biergotten, na época estava ativamente bastante envolvido e já pensando em fazer algo similar. Eu sempre gostei mais de mestrar do que “jogar” e o workshop ofereceu um mini cenário estruturado e um manual com as melhores práticas desenvolvidas pelos mestres de Biergotten para hexcrawl. Assim, eu comecei a estruturar o cenário.

A mesa começou com um pequeno período “fechada” em que eu convidei alguns amigos de outras mesas para testar a ideia inicial, a proposta era simples:

Finisterra é o limite do mundo conhecido, ao norte de tudo, onde existe uma região erma e abandonada pelos homens e pelo tempo, conhecida apenas como a Grande Vastidão.

Recentemente uma Companhia de Mercenários conhecida como Os Biltres se instalou nos limites dessa terra maldita e começou a financiar explorações nos ermos. Você é apenas um aventureiro que decidiu deixar tudo para trás e viajou até o limite do mundo conhecido em buscas de Aventuras, Ouro & Glória!

Algo essencial para o funcionamento contínuo da mesa e gerenciamento do grande volume de informações foi o uso do Notion como ferramenta. Além de ser o local onde organizo o cenário em si, também é um banco de dados de rumores, logs de sessões, personagens e tudo mais. Aqui por exemplo eu tenho o registro de logs de todas as sessões, sabendo quem jogou, o dia na ficção e no mundo real e outras infos:

O sistema e a mesa aberta

Adotamos como sistema o Caves & Hexes, sistema brasileiro que usa como base o D&D basic/expert de 1981, essa é uma versão do D&D muito diferente da atual, em que regras são mais leves e simples, o jogo é mais letal e também apresenta ferramentas clássicas de exploração de dungeons e ermos.

Após 10 sessões iniciais mestrando apenas para amigos mais próximos, a mesa finalmente se tornou aberta e divulguei em diversos grupos OSRs chamadas para quem quisesse conhecer o projeto, e assim muitos jogadores novos vieram.

A dinâmica de mesa aberta vem da ideia principal que não existem grupos fixos nem agenda fixa. Da forma como eu faço são realizadas chamadas abertas com normalmente 5 vagas, aqueles que podem jogar formam um grupo que sai para exploração. O mundo é persistente, o que significa que tudo que acontece modifica o mundo e que o jogador pode continuar desenvolvendo o mesmo personagem sessão após sessão.

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Frequência e temporadas

Durante esse ano consegui manter um bom “ritmo de jogo”, a maioria das semanas com 2 ou 3 sessões e apenas pequenas pausas no fim do ano e entre temporadas. Para organizar a mesas e minhas preparações eu decidi separar a campanha em temporadas de 35 sessões, essa divisão serve apenas um propósito organizacional, assim entre temporadas acontecem pausas de cerca de 2 semanas que uso para revisar preps, mapas, ajustar coisas que não estão funcionando tão bem e etc.

A média geral foi de 8.33 sessões por mês e 1.92 sessões por semana. Na prática, a média semanal é um pouco maior, retirando as semanas de pausas, ficam 2.17 sessões por semana em média.

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Jogadores e Personagens

Ao longo da campanha 50 jogadores diferentes passaram pela mesa e 64 personagens se aventuraram nos ermos em busca de tesouros. Desses personagens 26 se aventuraram em 5 ou mais sessões e 50 pelo menos em 2 sessões, o que me parece uma ótima taxa de “fidelização” dos jogadores.

Quanto aos personagens, os mais “desenvolvidos” chegaram no nível 7, e muitos outros estão entre os níveis 3 e 6. A evolução na mesa além do clássico XP por ouro tem alguns motores adicionais por mapeamento, relatos e rumores, o que permite uma evolução mais acelerada que o padrão do sistema.

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Avanço geográfico

Na campanha utilizo hexes padrões de 6 milhas (~10 km), os jogadores não têm acesso ao mapa dos ermos, a exploração acontece no teatro da mente pela descrição dos terrenos e marcos de cenário. Os jogadores estão ativamente, de forma coletiva, mapeando o mundo.

Mapa coletivo feito no roll20 organizado pelo Ishamael [Renan]

Mapa do Mundo conhecido até então desenhado a mão pelo Sardinha [John]

Ao longo das sessões os personagens “pisaram” em 89 Hexes (em verde), uma parte do cenário de 14 hexes é mar (em azul) e os 41 restantes (em branco) ainda não foram “pisados”. Hexes pisados não significam explorados, muitos desses os personagens apenas passaram sem se aprofundar na região.

“Mapa de Calor” do avanço da campanha (as cores não significam o tipo de terreno, apenas marcam hexes “pisados”)

Os avanços da sociedade na ficção

A campanha começou com essa companhia chamada de Os Biltres se instalando nos limites do mundo conhecido e levantando um pequeno vilarejo para operar a exploração dos ermos amaldiçoados, a vila era bem simples no começo da campanha, somente com o básico de estrutura para os aventureiros que chegavam.

Esse foi o mapa inicial que eu fiz no início da campanha, o mundo mudou muito durante essas 100 sessões.

Com o passar das sessões e as dinâmicas de downtime (tempo entre aventuras que os personagens ficam na vila) os personagens começaram a investir seus ganhos de tesouros em projetos, muitos envolviam novas construções na vila. Essa agenda foi especialmente interessante porque ampliou a própria infraestrutura da vila trazendo benefícios coletivos para a campanha.

Hoje na mesa depois de 100 sessões temos as seguintes construções de pé feitas pelos próprios aventureiros. Atualmente já se passaram 627 dias na ficção desde a primeira aventura na sessão 1.

⇒ Cemitério: essa construção foi financiada pela Companhia dos Biltres, muitos aventureiros trabalharam em downtime.

⇒ Estábulo do Osmar: inicialmente o estábulo era da companhia dos Biltres, mas o pequenino Osmar decidiu investir seus tesouros para comprar e administrar o estábulo a partir de uma parceria com os Biltres. Atualmente o estábulo tem capacidade de 30 baias para cavalos e mulas.

⇒ Templo de Abdath: a primeira igreja que se instalou na vila após as notícias de tesouros sendo encontrados em grandes volumes nos ermos.

⇒ Altar/capela com Fonte para Estrela da Manhã [construído pelo Clérigo Leo Belomonte]: Essa é uma religião que foi desenvolvida na própria mesa, proposta do jogador Guilherme Providello. Com o tempo o altar se tornou uma capela, atraindo fieis e outros aventureiros para a religião.

Você pode ler mais sobre essa e outras religiões da campanha aqui: https://icaroagostino.notion.site/Religi-es-Conhecidas-Finisterra-70660a7915a9430ab4eb0940bc4a0804

⇒ Altar da Deusa da Lua a Céu Aberto/Pequeno Templo com 2 cômodos: Outra construção religiosa dos Clérigos da Lua.

⇒ Empório da Frass: construção de um estabelecimento para negociar itens diversos. Tocado pela personagem Frass (maga).

⇒ Forja do Adélio: Forja pública financiada pelo aventureiro Castelão Adélio que subiu na hierarquia da companhia conseguindo cargo de um confiança entre os Biltres.

⇒ Sede do Costela: Estabelecimento do anão Costela que angariou diversos NPCs para construir na vila, a maioria das construções foram feitas por ele no comando. 

⇒ Estufa do Rubens (desativada): o personagem Rubens começou a desenvolver uma estufa para plantar espécies exóticas encontradas nos ermos, o personagem acabou morrendo e a estufa está abandonada.

⇒ Casa do Sardinha: Construção do Guerreiro Sardinha que começou a treinar homens de armas, gerenciar um estábulo e provê infra de logística para outros aventureiros.

⇒ Madeirices da Lia: Mercenária da aventureira Rosalía recentemente levantada para fornecer estruturas de madeiras gerais. 

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Conquista de Postos Avançados

Uma parte importante de uma campanha de hexcrawl é estabelecer postos avançados. Em Finisterra atualmente temos 3 postos avançados, duas torres no lado leste e oeste do mapa que estão conectadas entre si por um portal mágico e o Castelo Arascot.

Tanto as torres quanto o castelo eram covis de criaturas que os aventureiros limparam, as torre eram estruturas mais simples com apenas 3 andares, uma ocupada antes por homens serpentes e a outra por uma facção de bandidos. Foi um avanço importante para a mesa pois o portal que conectava as torres permitiu explorações mais dinâmicas.

As Torres na esquerda e direita (mapa feito pelo jogador explorando o mundo)

Já o Castelo foi a primeira dungeon relevante da mesa com cerca de 40 salas e 3 andares. Levou cerca de 30 sessões para o local era completamente dominado, era o covil de diversas criaturas como hell hounds, carniçais, esqueletos e etc, e seu grande “vilão” era um Vampiro que já tinha sido rei das terras. Um dos pontos altos da mesa até aqui foi a destruição desse Vampiro. Os jogadores mapearam o castelo completamente e depois com a ajuda da companhia estabelecerem como um importante posto avançado e local seguro para a companhia.

Mapa parcial do Castelo feito pela Salviana [Nicole]

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Facções e relações

Ao longo da mesa os personagens interagiram com diversas facções, aqui vou colocar alguns rumores de exemplo só para ilustrar como alguns desses movimentos se desenvolveram.

Vulperas e a caverna [T01E12 - 22/10/2023] Dentro do mato alto, a leste do rio, existem pequenas criaturas, humanoides, que lembram raposas. Eles estão armados e são protetores com relação ao seu território. Contornando pelo matagal as montanhas após duas horas de caminhada, existe uma caverna. Ela era habitada por essa tribo de Vulpera que fizemos um acordo com seu novo líder.

- Frass, Olho de Prisma

Encontro com o Amargo [T01E15 - 29/10/2023] Enquanto estávamos indo para as minas próximos da praia, ao passar pelo milharal fomos abordados por um bando. Eu consegui me esconder nas pedras do lado da Montanha e escutei ele que parecia o capitão daquele bando, Amargo, indagando quantas pessoas tinha na cidade. Insistiu muito por essa informação, até ofereceu seus serviços em troca . Conseguimos seguir nosso caminho sem informar alguma coisa, mas, será o que Amargo está tramando?! Será necessário uma caçada ou fortificar a cidade?! É importante que todos saibam e tomem cuidado ao passarem pelo milharal.

- Pela Pau, o Ladrão

Centauros e a Deusa da Lua [T01E28 - 03/12/2023] Ouçam Biltres!!!!! A deusa da Lua é louvada por muitos, inclusive os centauros que vivem em uma vila nos ermos. Carreguem seu simbolo, ofereçam orações e alimentos, assim eles serão mais amigáveis e vocês conseguirão passagem.

Cleribaldo, o clérigo

Elfos rondando [T02E22 - 07/04/2024] Um dos soldados do Salgado nos avisou sobre elfos do bosque vermelho rodando pelos arredores da Torre da Caveira. Melhor tomar cuidado e torcer para que eles não estejam tentando invadir o território.

- Salviana, a elfa

No geral os aventureiros tiveram a tendência de fazer alianças, como com o povo Gnoll, os Centauros, os Gnomos e os Piratas. Porém alguns conflitos escalaram e levaram a diversas mortes, como os Elfos vermelhos que tinha uma antiga rivalidade com os humanos e com a Guilda dos Amargos que eram uma grande facção de bandidos da região.

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Pesquisa Mágica e Regras para Magia

Inspirado nas campanhas de Oil Fantasy que joguei propus uma série de rulings para aprofundar a pesquisa mágica na mesa, desde regra de pesquisa em Concílio de Magos, mentoria com mago mais experiente e desenvolvimento de novos feitiços.

Veja as regras de Magia para Finisterra aqui: https://icaroagostino.notion.site/Regras-para-Magia-Finisterra-4b46dc29bf31493bbe8d8a4222e438a6

Ao total foram desenvolvidos mais de 15 novos feitiços a partir de pesquisa mágica arcana e divina com o uso de implementos arcanos frutos da exploração dos ermos, como frutas ácidas, pena de grifos, pergaminhos, joias arcanas e etc. No futuro farei um post detalhando os feitiços desenvolvidos, mas aqui vai a lista com o título da maioria deles:

- Mil Faces de Ellisande

- Passo Derradeiro de Ellisande

- Exercer a Ordem do Conclave

- Mergulho da Serpente de Ellisande

- Projétil Mágico

- Escultura das Brumas de Ellisande

- Mãos a Serviço do Conclave

- Sopro Gentil de Ellisande

- Mensageira das Névoas de Ellisande

- Redoma dos Quatro Ventos de Ellisande

- Míssil Mágico Congelante (aqui o personagem desenvolveu várias versões da magia alterando parâmetros de duração, dano e efeito)

- Míssil Encantador

- Escudo Mágico Reagente

- Estrela da Manhã

- Escudo da Manhã

Rumores e relatos

Ao longo de 100 sessões, 353 rumores foram escritos pelos próprios jogadores ao retornar de suas aventuras, indicando perigos e oportunidades. Esses rumores estão disponíveis online de forma aberta para consulta da mesa e de quem mais quiser ler.

Link do banco de rumores: https://icaroagostino.notion.site/553fd1f44a054bd29d10def171263ca7?v=702206a7c6c54a12912b454ff82ef05c

Os relatos eu decidi postar apenas no blog, também podem ser lidos por aqui. A função dos relatos é principalmente de registro das aventuras.

Link dos relatos: https://www.dialogoficcional.com/search/label/Finisterra

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O futuro

Agora estamos a 5 sessões de finalizar a terceira temporada e também irá marcar o meio da campanha. Finisterra está planejada para acabar com 210 sessões (6 temporadas de 35 sessões) ou antes. Eu criei a mesa como um projeto mesmo, e com isso um fim em vista, até para poder no futuro mestrar outros cenários e sistemas.

O final da campanha está ancorado ao ⇒ que é contido em um canto do mundo entre montanhas e o mar sem possibilidade de expansão para além dessa grande região chamada de vastidão. Meu palpite é que 210 sessões serão suficientes para explorar a maior parte da vastidão sem esgotar tudo.

Até agora tem sido uma experiência muito positiva mestrar uma mesa aberta principalmente pela frequência. Não tendo a necessidade de grupo fixo dificilmente a sessão deixa de acontecer, e essa experiência me trouxe de volta pro RPG de forma muito mais profunda.

Vou deixar para comentar no futuro assuntos mais específicos de como é gerenciar uma mesa com tantos jogadores, eventuais boas práticas e etc.

Ainda existe uma longa jornada pela frente!

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Muito obrigado se você jogou ou joga Finisterra, eu não irei nomear aqui os 50 jogadores que passaram na mesa ao longo desse último ano, mas vocês sabem quem são =)

Ah, se você quiser jogar aqui está o link: https://icaroagostino.notion.site/Finisterra-Infos-Abertas-3b2d918f261b48c685cde56abd7a2119